O professor como imigrante digital
Estudar a ciberinfância e os conhecimentos produzidos por ela na Web contemplam um tipo de infância presente em muitas escolas, sendo que essa parcela de crianças só tende a aumentar. Hoje, as crianças já nascem no meio digital e muitas delas não sabem como é o mundo sem essas tecnologias. Essas crianças, podem ser chamadas de nativos digitais. Esses “nativos” possuem o domínio e a facilidade com que crianças e adolescentes trabalham desde pequenos com a tecnologia.
Para os adultos que nasceram antes da difusão da tecnologia digital, o autor chama de imigrantes digitais, pois esses aprenderam e conheceram os computadores e outros aparelhos eletrônicos ao longo de suas vidas. Entretanto, a evolução e a expansão tecnológica estão se dando de forma tão veloz, que não paramos para pensar a respeito da constituição dessa cibercultura na qual estamos inseridos. Muitos adultos já se apropriaram e necessitam tanto dos aparelhos eletrônicos, que, assim como as crianças não se imaginam mais “vivendo” sem eles.
É como se os imigrantes digitais, falassem “uma outra língua” e se vivessem em um novo país, tendo que aprender, muitas vezes sem um suporte maior, uma outra forma de comunicação. São os “imigrantes digitais” que tentam falar a “língua digital”, mas com “forte sotaque analógico”.
No ambiente escolar, essa inadequação entre “imigrantes digitais” e os “nativos digitais” mostra-se ainda mais problemática. Um dos grandes erros dos imigrantes é imaginar que as tecnologias digitais devem ser “introduzidas” no processo de ensino e aprendizagem, no entanto, ela está sempre presente, imbricada na ação dos nativos/alunos, pois eles vivem e pensam com essa tecnologia, ainda que na frente deles esteja um professor “imigrante digital” com um giz branco e um quadro negro.
O mundo digital trouxe para o ensino a necessidade de se aprimorar os espaços de comunicação, de interação, de construção coletiva, de aprendizagem, constituindo-se em verdadeiros espaços de convivência. Nesse sentido, não raro as atividades propostas pelo professor restringem-se à digitação de texto ou uso de um CD-ROM que nem sempre é interativo, evidenciando uma proposta totalmente “analógica”. Outro erro comum é colocar a aula no laboratório ao encargo de um monitor, para substituir um professor que faltou naquele dia ou mesmo condicionando a ida dos alunos ao laboratório de informática àqueles que tiveram bom comportamento durante a semana.
O desenvolvimento de novas competências docentes é fator determinante nas práticas pedagógicas, principalmente naquelas que envolvem o uso de tecnologias tais como a Internet e seus recursos. Embora muitos cursos de formação proponham o uso de tecnologias digitais, entende-se que o uso da tecnologia como fim em si mesmo não será capaz por si só de transformar práticas tradicionais. Propõe-se que a capacitação docente explore o desenvolvimento de competências e habilidades técnicas e pedagógicas, norteadas pela reconstrução do conhecimento como forma de relacionar a informação à prática formativa, uma vez que a maioria do corpo docente em atuação pertence ao grupo de imigrantes digitais. A formação docente que necessita contemplar reflexões sobre como as tecnologias digitais podem contribuir para fomentar um ambiente de interação e elaboração de conhecimento entre os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem.
O professor precisa ter um olhar crítico sobre sua prática pedagógica, escolhendo o melhor material a ser utilizado pelas crianças e refletindo junto com elas sobre a apresentação do site, dos sentidos dados pelos seus produtores e os sentidos que podemos dar, enquanto usuários, crianças e responsáveis pela nova geração. A criança precisa entender o mundo social e natural, as produções culturais e tecnológicas de sua época, para ser um cidadão informado, crítico, posicionado, capaz de expressar suas opiniões, seus sentimentos, suas discordâncias e também ser capaz de ouvir seus parceiros, seus interlocutores.